…Felipe queria declamar uma poesia sua. Qual? É, ele queria e não queria, tudo ao mesmo tempo. Luciana sentiu a agitação do filho nos últimos dias. – O que houve, filho? Você está tão diferente… – É que… que… que… Bem que a mãe poderia forçá-lo a dizer tudo de uma vez. Assim, ele retiraria dos ombros aquela montanha de vergonha e ficaria tudo resolvido, ninguém mais o acharia tímido demais. – Venha cá, meu querido, deite-se aqui. Era tudo o que ele queria. Colo. Alguém que o ouvisse e o ajudasse a abrir o coração. – É que eu queria ser diferente, mãe. – Diferente como? – Diferente, oras. Não queria ter tanta vergonha de falar. – E por que só agora você está querendo mudar, perder a vergonha de falar? Você não quer contar? Não quer confiar em mim? Silêncio. Felipe deixou de brincar com os dedos e buscou os olhos da mãe. Estavam brilhantes e refletiam amor, pura bondade. Ele sabia que em sua mãe poderia confiar; por isso, pigarreou e decidiu-se por contar, abrir a pasta de seu coração…