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O garçom Garcia conhecia bem a sua clientela. Como o avestruz escritor não o cumprimentou com atenção e entusiasmo, tinha certeza de que ele estava escrevendo por dentro. Então, com sua habitual elegância, depositou na mesa a xícara, o recipiente pequeno com creme, e se afastou. Embora gostasse de conversar com aquele interessante e comunicativo cliente, aquela não era a melhor hora. Avelino limitou-se a agradecer. Admirava a postura do polvo Garcia. Era, sem sombra de dúvida, o melhor garçom das redondezas.
O caderno à sua frente era um irresistível convite. Precisava escrever. Antes, porém, saboreou o creme e esvaziou a xícara com grande prazer. Abriu o caderno e registrou…
Sou feito de muitos seres.
Claro que seria bem mais fácil
ser apenas um ser.
Mas já me acostumei a ser muitos…