…Com certa afobação, Raul retirou o plástico que envolvia a caixa e esparramou os lápis no tampo da escrivaninha. Estavam bem apontados. O menino, encantado com as cores, desenharia e pintaria um mundo com todos os povos.
Aliás, que cores usaria para pintá-los? Cor de pele, claro. Pegou um lápis, mas aquele não tinha a sua cor. Não havia ali um lápis que chegasse próximo do tom da sua pele. Nem mesmo o marrom. E os povos indígenas e asiáticos, então? Não seria possível pintá-los de amarelo. Muito menos pintar pessoas consideradas brancas com lápis branco. Teria de misturar muitas cores para conseguir o tom de cada pele. Será que precisaria de uma caixa com um número maior de lápis? Aliás, se todos os povos formavam a Família Humana, a cor da pele nem era tão importante assim. Muito mais importante eram as cores dos sentimentos.
Afinal de contas, que cores Raul usaria para pintar as pessoas? Desanimado e indeciso, reuniu os lápis na caixa, afastou o caderno e foi para a sala. Jogou-se no sofá, ligou a televisão e ficou assistindo à Sessão da Tarde sem um pingo de interesse.
No dia seguinte, na segunda aula, Graça, a professora de Geografia, falou das festas populares que aconteciam em diversas regiões do País. Falou do Carnaval, da festa de São João, do Festival Folclórico de Parintins, do Círio de Nazaré. E falou dos trajes, do colorido exuberante, das danças, das comidas típicas. Raul gostava bastante das aulas da Graça. às vezes, tinha a impressão de que sua professora tinha viajado para todos os lugares que mencionava, de tão bem que descrevia a arquitetura, o clima, a vegetação, os detalhes de cada região. Mas bastou a Graça falar em colorido exuberante para o Raul saber exatamente como queria pintar os povos do seu caderno…