Renata deixa o ateliê e sobe para o quarto. Senta diante da escrivaninha e destaca algumas folhas do bloco. Tem tanta coisa que quer escrever que mal sabe por onde começar:
Gustavo,
Primeira coisa. Lá na escola estamos todos sentindo a sua falta. Quando eu olho para sua carteira vazia, eu sinto um nó na garganta, uma vontade lascada de chorar. E, cá entre nós, hoje a gente chorou mesmo. Foi assim… O Juvenal estava fazendo a chamada e falou o seu nome, repetiu o seu nome e metade da classe já estava com a cabeça baixa, sem jeito de explicar. Daí o próprio Juvenal percebeu como todo mundo ficou embaraçado, sem palavra e, não sei como, ele lembrou da sua hospitalização, abaixou o rosto e enxugou uma lágrima. Foi de cortar o coração, Guto. Ele pediu desculpas e continuou a aula. Sei que eu não devia ficar contando esses acontecimentos tristes pra você. Só contei pra você saber o quanto você é estimado e importante para nós. E, depois, imagino que será legal saber que você está fazendo falta na sala.
Segunda coisa. Não se preocupe com as aulas que você está perdendo porque a turma fez uma vaquinha e comprou um caderno na papelaria do Belarmino. Estamos copiando todas as aulas. E já deu até briga porque todo mundo quer colaborar. Então, não se preocupe com isso. Quando você voltar, ensinaremos a matéria.
Terceira coisa. Pedi ao meu pai para pintar um quadro que, de alguma forma, representasse a cura. A essa hora ele deve estar no ateliê. Ele estava acabando um e já ia começar o seu. Legal, não acha? E no domingo vamos levá-lo aí no hospital. Quando amanhecer, vou ligar o ventilador em frente ao quadro para ter certeza de que ele estará seco até o domingo. E, para garantir, também vou usar o meu secador de cabelos. Sei que o tempo está bom, mas nunca se sabe.
Quarta coisa. Gosto de você.
Quinta coisa. Com esta carta estou enviando um…