“Depois de reler o bilhete, Aninha olhou para trás. Devia estar rosa, azul, porque Marcelo também estava vermelho. Os amigos olhavam para trás, não queriam perder um lance da reação dos dois. De certa forma, sabiam o que estava escrito no bilhete. Não era nenhum segredo para a classe o que um sentia pelo outro. Marcelo queria virar um avestruz e afundar a cabeça no chão. Por que foi passar o bilhete pra frente? Que proibição descabida a de não poder deixar o celular ligado durante as aulas! E se a Aninha achasse aquele negócio de bilhete um gesto do século retrasado? Mas, se ela gostava de cinema, por que motivo acharia ultrapassado um bilhete? E aconteceu o que estava desejando.
Ao virar-se para trás, Aninha sorriu para Marcelo e voltou a cabeça para frente. Toninha se certificou de que Marcelo havia acompanhado a sua explicação e entendido a equação, mas havia outras dúvidas nos olhos de seus alunos. Será que a matemática era capaz de resolver todas as equações do mundo?
Que esquisito era sentir tudo aquilo, e tudo de uma vez… Gostar de alguém devia ser este vendaval, esta tempestade, este cavalo desgovernado que ninguém consegue domar.”