…Você está crescendo e não quero que a distância se instale entre nós. Gostaria de dizer que te amo e que só sei sentir todo esse amor, sem saber falar. O silêncio que aprendi com meu pai não tinha palavras. Era um silêncio impenetrável. Nunca pude entender muito bem quem foi o meu pai. Gostava dele e sei que ele gostava de mim. Por muitos anos sonhei com o dia em que ele se aproximaria de mim e falaria tudo o que eu mais gostaria de ouvir. Quis muito conversar com ele. Não de homem para homem, mas de amigo para amigo. O tempo passou e hoje tenho saudade de tudo o que não ouvi, de tudo o que não falei. Ah! Como seria bom se eu também tivesse feito massagens em meu pai como você faz em mim. Acho que ele teria ficado feliz, como eu fico.
Houve momentos em que eu o senti querendo desatar um nó na garganta e conversar comigo, mas, nesses momentos, ele preferia sair e conversar com algum amigo. Esse foi, meu filho, o silêncio que aprendi com o seu avô, o meu pai Norberto.
Já o nosso silêncio, João, é diferente, porque nós nos entendemos. Eu consigo ouvir a sua presença, a sua existência, a sua respiração, mesmo quando estou aqui no escritório trabalhando. Talvez esteja na hora de falarmos mais de nós, um para o outro. Hoje à noite deixarei esta carta em seu quarto, e, quem sabe, amanhã já estaremos conversando abertamente sobre vários assuntos, não é mesmo? Ultimamente tenho sentido um…