… – Você tem filhos, Pedrão?
– Tenho, quer dizer, tinha. Ele morreu numa briga. Foi defender o amigo e levou duas balas no peito. Foi um ato de coragem. Ele foi embora…
Eu penso nele toda hora, cada minuto, como se ele existisse em cada gesto meu. Ele se chamava Mateus. Tinha dezenove anos e adorava viver, sorrir e sair com os amigos. Sabe, Guiga, quando as balas atingiram o Mateus, eu e a minha família toda também fomos atingidos, baleados. Nós também morremos naquele momento. Morremos de uma morte diferente, uma morte que ninguém vê e pouca gente entende. Dá pra entender? Guilherme não conseguiu dizer nada, não conseguiu mais engraxar. Suas mãos ficaram duras, paradas. Ele quis abraçar o homem. O homem quis abraçar o menino. O abraço não aconteceu. Pedro continuou a falar:
– Eu só queria que aquela arma espirrasse água…