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A corrida na versão da lebre
Seria moleza vencer. Ainda mais com um trajeto tão curto. Em menos de quatro horas eu passaria pela linha de chegada, ouviria os aplausos e o meu nome sendo repetido com empolgação. Não queria fazer uma corrida comum. Queria um acontecimento. Uma corrida memorável! Se fosse preciso, passaria a madrugada planejando cada detalhe, não podia desperdiçar um segundo. Pensaria em dormir só depois de conquistar a medalha de prata.
E, de fato, atravessei a madrugada estudando o melhor roteiro e conferindo equipamento. Felizmente, pedi socorro a dois amigos preparadores físicos: pato Ninho e flamingo Flamínio. Eles chegariam à minha toca quando o dia amanhecesse. Nada poderia dar errado.
Que sono… Bem que poderia, ao menos, ter dormido duas horas, mas o cansaço não haveria de prejudicar o meu desempenho. Se Leônidas tivesse me dado as três medalhas de uma vez, eu nem precisaria passar por todos esses transtornos.
Amanheceu. Não havia fechado os olhos. Se pudesse, cancelaria a corrida e dormiria a manhã toda. Nada disso! Nem pensar! Ninho e Flamínio chegaram dispostos. Coloquei-os a par da corrida e disse exatamente o que cada um deveria fazer.
Ninho montaria a asa-delta no alto do morro e, depois do pouso, ele desmontaria, ajeitaria tudo e voltaria para a minha toca. Flamínio cuidaria do equipamento de rapel para minha descida triunfal na cachoeira. Ah! Eles riram demais quando souberam que eu estava montando todo aquele esquema para disputar uma corrida com tartaruga Tarsila. Enfim, cada um seguiu para o seu posto de ação. Quanto a mim…