Nestor transportava carga de uma cidade a outra. Embora o seu trabalho exigisse um tremendo esforço físico e ele o fizesse sem reclamar, ainda assim Nestor gostava mesmo era de sutilezas, nuances. Para a maioria das pessoas, ele era apenas um burro de carga. Para si próprio, ele era um carregador de pensamentos. E, de uma cidade a outra, transportava as sutis camadas de seus pensamentos. Às vezes, entendia os homens e até os admirava. Outras vezes, discordava da lógica humana. Não entendia por que razão alguns não faziam uso devido da inteligência. E esses alguns ainda o insultavam. Chamavam-no de burro, asno, como se fosse algo ofensivo e vergonhoso ser um burro, um asno.
A mãe de Nestor tinha um nome sonoro. Clarice. Era uma égua reflexiva, introspectiva. Falava pouco, mas havia bastante conteúdo e beleza no pouco que falava. Foi ela que lhe ensinou a pensar pensamentos luminosos.
Nestor questionava a mãe:
– Por que há sempre muitas respostas para uma pergunta?
Clarice respondia à pergunta do filho com outra pergunta:
– Por que há tantas perguntas dentro de uma resposta?
Nestor sorria e mexia as orelhas. Sabia que nem sempre era possível entender uma resposta na mesma hora. Seria preciso destrinchar, esmiuçar a resposta…