…Maria, toda entusiasmada, promete deixar tudo um brinco. A patroa torce o nariz e faz uma cara azeda, querendo acreditar e ao mesmo tempo desacreditando, achando que é tudo fogo de palha de primeiro dia de trabalho. Ledo engano, porque as semanas passam e a qualidade do serviço só melhora. Uma tarde, Maria resolve passar lustra-móveis no antigo guarda-roupa e retira tudo o que há dentro dele. Passa pano, esfregão, palitinho nos cantinhos e sai um montão de poeira. O lustra-móveis dá uma fragrância deliciosa para o guarda-roupa. Antônia, entusiasmada, aproveita que está tudo para fora e começa a separar umas roupas mais batidas para o brechó da dona Clementina O quê?!? A senhora vai vender essas roupas boas para o brechó? De jeito nenhum! Deixa aí que eu já dou um jeito. A senhora guardou os botões dessas camisas? Naquela caixinha ali. É uma caixinha de música com gargantilhas, pulseiras, abotoaduras, broches, anéis, brincos, presilhas e botões perdidos, que há muito tempo caíram de uma ou outra camisa social e que precisam ser pregados. Maria conta quantos botões faltam, vê quais são os tipos de que as camisas precisam e separa a quantia certa. Aproveita o pique e ocupa o resto da tarde pregando os botões, reforçando alguns que estão quase caindo e cerzindo pequenos rasgões. Até troca uma palavrinha com as roupas e os calçados. Além disso, para a alegria dos calçados, esvazia as sapateiras e os coloca no quintal para tomar um ar. E mais ainda: a Andorinha tem o romantismo de intercalar sapato de homem com sapato de mulher. Diz, entre risos, que assim eles ficam mais felizinhos e arejados. Abre as latas de graxa e, enquanto vai escovando sem pressa sapato por sapato, sandália por sandália, bota por bota, vai cantando músicas alegres e lembrando de bons momentos que viveu em seu passado tranquilo. O guarda-roupa Douglas fica uma joia e as roupas ficam emocionadas com tanta poesia e carinho. Que diferença da Lu Peixinha. Os calçados nem estão mais acostumados com…